News da prof. 008
Pensando pensamentos e analisando "causos" da cultura pop...
Entre um milhão de coisas que aconteceram em novembro (sério, parece que esse mês teve o dobro de dias), fiz uma seleção de assuntos que eu acredito serem relevantes e, claro, dignos de nota, por meio dos temas que eu já trato por aqui.
Devo dizer que ter visto o meu país Pará com o holofote que teve (para o bem e para o mal), me marcou imensamente e me deixou com diversas ideias de artigos científicos e viagens acadêmicas. Do mesmo modo, a quantidade de conteúdos a serem analisados sobre esse assunto também me deixou sobrecarregada e impressionada. Com certeza é um assunto que tem pano para muita manga!
Bora?
🫧 Furando a Bolha 🫧
Nostalgia Sensorial
Esse mês fomos presenteados com esse comercial aqui do Canva, com a Xuxa:
E além de genial, dentro de um lógica complexa de consumo nostálgico, essa ação me fez pensar sobre uma onda de microtendência que está ganhando uma forma interessante na publicidade brasileira: a nostalgia sensorial.
Sim, porque o nostálgico não se manifesta apenas por uma paleta de cores, um design que é o mesmo (ou uma variação modernosa) do anterior. Mas também ao despertar os sentidos para um conjunto simbólico forte - bem como a Sorriso fez, trazendo a Kolynos de volta.
É tipo ser capaz de encapsular o sabor do passatempo e nesquiki de morango, enquanto assiste Lagoa Azul no sofá da sala de casa, em uma só propaganda. Ou em um só produto. Não é fácil. Mas ao mesmo tempo é.
Isso porque, quem hoje é muito mais atingindo pelo consumo nostálgico são as gerações X e Y, ou seja, um grupo de pessoas que não é nativa digital e que compartilhou de uma porção de elementos contextuais semelhantes. Vivemos juntos a explosão do axé e dos trio elétricos (o que nos trouxe o bambolê do É o Tchan!, além do tamanco da Carla Perez), vivemos a era Má Cherie e suas milhões de variações (e olha só quem está de volta!), quisemos comprar os primeiros celulares da Oi, inclusive o Oi MTV e o Oi Xuxa, e passamos pelo boom dos gloss e itens com brilho. Isso tudo tem cheiro, tem gosto, tem imagem, tem sensação e tem som.
E olha só, não são apenas os GenX e millenials que somos diretamente afetados por isso tudo. Os GenZ, primeira geração nativa digital, está morrendo de saudade daquilo que não viveu. Estudos recentes mostram que essa é uma geração totalmente conectada com o passado (ainda que seja um passado imaginário) e uma busca incessante daquilo que o digital não dá conta de trazer. Eles almejam sentir.
E esse sentir pode vir com estratégias realmente muito interessantes para marcas. Sejam de produtos, serviços ou até de experiências. A campanha de reaquecimento de Stranger Things está aí e não deixa mentir…
Deixo aqui algumas refs interessantes para você se aprofundar nesse assunto:
✨Assunto do mês ✨
COP30 - Amazônia no centro e o Pará no norte.
Não tem como seguir nessa news, sem falar de COP30. Além de ter sido o assunto do mês (e provavelmente, um dos assuntos do ano), eu tive uma porção de insights pensando sobre isso e nas suas múltiplas relações com marcas, poder, posicionamento ideológico e muito mais. Mas nessa news, quero focar em dois pontos que têm direta relação com o projeto de iniciação científica que estou desenvolvendo hoje e que se interconectam:
1 - A cobertura jornalística e da mídia tradicional;
2 - O que faz parte do nosso imaginário;
Quando Arjun Appadurai (1996) tratou de paisagens midiáticas em suas pesquisas, ele nos apontou para algo extremamente importante: a mídia não só informa, ela recorta o mundo para nós. Ela cria cenários, molda expectativas e estabelece quais histórias ganham destaque e quais ficam de fora. E foi exatamente isso que vimos acontecer durante a COP30 em Belém.
Apesar de a conferência ser, essencialmente, um encontro global sobre a crise climática, uma escancarada grande parte da cobertura jornalística e das mídias tradicionais acabou priorizando outras narrativas. E isso diz muito sobre as paisagens midiáticas que cercam a Amazônia.
Por um lado tivemos reportagens exaltando a “beleza exótica” da cidade, destacando comidas típicas como se fossem descobertas arqueológicas ou tratando o Pará como um terreno “selvagem” que precisava ser domado para receber visitantes ilustres. Esse tipo de enquadramento reforça uma longa tradição de exotização (veja a news 005), essa visão de que a Amazônia é apenas um cenário curioso, distante, pitoresco, sempre observada através de um filtro que faz mais pela fantasia do que pela realidade.
Por outro lado, também não faltaram matérias com tom xenofóbico (incluindo a tal da #flop30). Desde as clássicas insinuações de que Belém não estaria preparada, passando pelos comentários sobre infraestrutura (como se o Norte fosse um território à parte do país), até um certo espanto (quase paternalista, eu diria), diante da hospitalidade paraense. São nuances que revelam um imaginário marcado pelo colonialismo, onde o centro dita expectativas e a periferia precisa se provar o tempo todo. O comentário do chanceler Alemão não deixa mentir.
A cobertura da COP30 tratou Belém como se o Pará estivesse fazendo vestibular para provar ao país (e ao mundo) que “daria conta”, enquanto regiões vistas como centros nunca precisam se submeter a esse tipo de avaliação. É curioso (e bem irritante) notar como qualquer elogio vira quase um troféu: “nossa, a cidade recebeu bem”, “nossa, tem infraestrutura”, “nossa, as pessoas são acolhedoras” e como quando acontece algum problema se dá 100 passos para trás (vide o incêndio no penúltimo dia). O bom é inesperado, o ruim é reforçado. Como se fôssemos eternos candidatos à vaga de civilização. De novo, Appadurai reforça que paisagens midiáticas não são neutras: elas fabricam hierarquias, reforçam expectativas e definem quem precisa se provar o tempo todo e quem já nasce aprovado. A questão é: se provar para quem, exatamente?
Interessante, ainda, é notar que em meio a tudo isso, o tema principal da COP (a crise climática, lembra dela?), quase desapareceu das manchetes. Esse deslocamento de foco é típico das paisagens midiáticas que Appadurai descreve: a mídia constrói mundos, mas nem sempre os mundos que importam e isso reforça o que vai ser silenciado.
No fim das contas, a COP30 escancarou o que já sabíamos: tratar de Amazônia é sempre falar de muitas Amazônias. A que existe, a que é vivida, a que é imaginada, a que é vendida. E talvez nosso maior desafio agora seja justamente esse: disputar essas paisagens, recontar essas histórias e recentrar o debate no que realmente importa: as pessoas, os territórios e a crise climática que segue avançando…
Quero te ouvir:
Referência citada: APPADURAI, A. Modernity at large: Cultural dimensions of globalization. Minnesota: University of Minnesota Press. 1996
📚A Prof. Escritora📚
Novidades sobre a minha vida entre páginas, personagens e eventos literários
Final de ano está chegando (grazadeux) e com ele o projeto de Amigo Oculto do DesfioMariSales. Com vinte e três autoras envolvidas, o projeto tem o objetivo de fazer uma troca de presentes criativa, na qual cada autora escreve um conto e a protagonista desse conto tem o mesmo nome da sua amiga secreta. O projeto começou oficialmente no dia 20/11 e vai se estender por um mês, com uma pequena pausa de cinco dias, por conta da Black Friday. E esse projeto me trouxe alguns presentes:
Escrever contos: cara, tá aí uma coisa que eu nunca tinha feito. Escrever um conto, que tem até 7k de palavras, foi um desafio delicioso e, com toda certeza, vou fazer mais vezes. Sim, já estou cheia de ideias!
Escrever mais sobre o mundo de Constelar, sem precisar ser um calhamaço: como todo mundo criado, eu estabeleci histórias de origem, mitológicas e até questões específicas que acontecem em nações para além de Althea, mas muitas delas não chegariam a se tornar um livro inteiro. Então, conto é perfeito. Assim como noveletas e novelas. Já quero mergulhar nisso.
A história de Hungru e XX (ainda não foi revelada a minha amiga oculta, então sem nomes ainda), que tinha um pequeno elemento na minha mente e se tornou algo inesquecível!
Deixo com vocês a capa e a sinopse desse novo lançamento:
Sinopse: Hungru jurou proteger sua trupe, mesmo que isso significasse fugir para os confins gelados de Dromovar, um reino governado por clãs poderosos, onde a magia da terra é latente. Tudo o que ele queria era guarita e paz para recuperar o espírito de sua família, depois dos eventos em Althea.
Mas o destino costuma se apresentar em forma de faísca. E com olhos dourados...
Entre holofotes e feitiços, ele descobre que a paixão pode ser tão poderosa quanto a magia que move Constelar. Porém, quando o passado é revelado e segredos antigos vêm à tona, Hungru e seu amor precisarão decidir se o que sentem é capaz de reescrever o destino das estrelas.
Tropes: Amor Proibido; Destinos Entrelaçados; Magia Elemental; Segredos de Família;
Ecos no Picadeiro é o primeiro conto de uma série de histórias curtas que vai explorar os vários cantos do mundo de Constelar, expandindo o universo apresentado em Diamante da Lua e seus personagens. Ainda que conectados, os contos não são interdependentes, por isso podem ser lidos de forma autônoma e na ordem que desejar.
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Além do universo literário, convido vocês para conferirem o livro O que (é) marca?, que eu escrevi em parceria com o amigo e pessoa maravilhosa de luz, Dôuglas Ferreira. Nós desenvolvemos esse material com ineditismo e a partir da chamada do selo PPGCOM da UFMG, para livros didáticos. Ele tem distribuição gratuita e o nosso objetivo é que mais e mais pessoas possam entender melhor sobre branding, em especial na América Latina.
Acesse o livro pelo site do selo (aqui) e veja mais sobre ele nesse vídeo aqui.
🫶🏻Indicações da Prof.🫶🏻
Sua lista mensal de conteúdos incríveis que podem nutrir sua mente e seu coração!
Com a black friday, resolvi trazer uma seleção de bons livros que podem ser úteis e ótimos para quem se interessa pelos assuntos que eu trato aqui nessa news, ensino em sala de aula e alguns que eu simplesmente amo - por serem aulas na prática de como fazer bom storytelling.
Três livros sobre branding



Três livros sobre storytelling



Três livros que eu simplesmente amo (e acho que todo mundo deveria ler também!)



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